sexta-feira, 7 de junho de 2013

Entendendo uma Gira de Umbanda

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Certamente a muitos é estranho entrar num terreiro e assistir uma gira, orar aos Orixás para que seus problemas sejam resolvidos. 
Mas como isto funciona?
A Umbanda desde que se iniciou, e isto já é um ponto a considerar, rapidamente se enquadrou dentro do contexto nacional brasileiro. 
É incrível a rapidez com que se propagou, e o interesse que tem causado a outras nações do mundo, sendo alvo de estudos, até de teses de pós graduação em psicologia, onde tentam por vários meios explicar um fenômeno, que facilmente se conclui pertencer a outras esferas de atividades da vida.
Observando-se o contexto nacional, a impressão que temos é que a consciência coletiva chegou a um ponto que não pode mais ser contida. 
Compreendemos como consciência coletiva, o somatório de consciências voltadas para um mesmo fim com laços kármicos.
 Além do mais, a Umbanda é uma religião que reúne elementos culturais do nosso país, envolvendo diferentes raças e credos do mundo.
Pela rapidez com que se instalou em nossas vidas, pela simplicidade que lhe é própria, pelos ensinamentos que as entidades que se apresentam como trabalhadores de Umbanda trouxeram e trazem, não houve tempo ou talvez necessidade de uma codificação no plano físico. 
Seu mister é trabalho e caridade. 
As codificações, os credos, são fatos que se fazem às vezes desnecessários, às vezes necessários.
Por isto esta obra está longe de ter a pretensão de se tornar um “Código de Umbanda” ou qualquer coisa parecida, objetivo tão somente resgatar e transmitir os ensinamentos obtidos através anos de trabalho dentro da Seara Umbandista, onde estudei e testei as mais diversas influências que me levaram as conclusões discorridas neste trabalho.
Portanto, mais importante do que estabelecer códigos é compreender a verdadeira Missão da Umbanda e como as forças da natureza interagem para que esta missão seja alcançada.
O que cada trabalhador de Umbanda deve ter como bandeira?
 Que a Umbanda é uma religião voltada somente para o bem. 
Não fazemos trabalhos para isto ou aquilo. 
Que o culto é grátis e não pode atender a interesses particulares.
Alguns trabalhadores menos esclarecidos deturpam completamente o sentido das bases do bem, saem fora da caridade e do trabalho produtivo gratificante, e continuam a chamar suas sessões de Umbanda. 
Isto é que é errado! 
É isto que nós umbandistas devemos combater e esclarecer.
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Ficarmos discutindo dogmas deste ou daquele Orixá nos leva a compreensão das forças da natureza sim, mas deve objetivar apenas isto e não a imposição de uma única Verdade.
A única verdade da Umbanda é a Caridade e o Amor, o resto são formas de culto que variarão de região para região, de terreiro para terreiro e devem ser respeitadas.
 Entretanto, charlatães,enganadores, espoliadores, falsos profetas, enfim, pessoas que usam o nome da Umbanda em benefício próprio tem que ser combatidos através do esclarecimento e divulgação da essência da Umbanda.
Devido a pessoas sem escrúpulos, é comum chegarem consulentes aos Centros de Umbanda, e se pasmarem com o fato de que o trabalho da gira de Umbanda visar somente o bem.
Esperamos sinceramente que este problema seja erradicado de nosso meio. 
E para isto contamos com a ajuda de todos os umbandistas na busca pela compreensão, divulgação e esclarecimento da verdadeira essência da Umbanda, pois os nossos piores detratores são os que se dizem umbandistas e se desviam do caminho do Bem.
Dos pilares básicos compreendemos nas lições trazidas pelos trabalhadores espirituais, e aqui evocamos a figura humilde dos Pretos Velhos, que são os Mestres da humildade, o seguinte: cada um tem suas crenças, suas características, seus laços de família, de raça e de religião, e isto deve ser respeitado. 
Respeitamos todas as religiões, desde que voltadas para o bem, e que respeitem os direitos humanos.
Portanto, a Umbanda não precisa ser pregada. 
Simplesmente se impõe no nosso contexto pelas verdades e características que as Entidades trouxeram e trazem e basta que olhemos e pensemos nas forças da natureza agindo, interagindo e atuando constantemente em nossas vidas.
Procuramos compreender não apenas os princípios básicos que nos mostram, mas as leis que regem a vida. E, portanto é necessário muitas vezes evocar algo mais profundo do que o concreto.
Entretanto, urge um posicionamento firme por parte dos umbandistas. 
A Umbanda é linda e está voltada exclusivamente para a Caridade. 
Não podemos nos envergonhar de ser umbandistas.
Temos que assumir o nosso amor a Umbanda e elevar o seu nome através de exemplos próprios em nossas vidas, em nosso dia-a-dia. 
Não adianta ser umbandista apenas dentro do Terreiro.
 Temos que ser fora dele principalmente!
O trabalhador de Umbanda deve compreender que na gira de caridade (sessão), todos estão fazendo caridade; o guia, o médium, os dirigentes materiais e espirituais, o assistente, e, portanto todos têm sua paga espiritual através da Lei do Karma. 
Fazemos o bem, porque ultrapassamos a barreira do viver apenas por viver, admitimos com isso algumas leis da vida hiper-física, e mais do que admitir, colocamos em prática tais leis.
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No entanto, o viver nos ensina que nem todos os problemas podem ser resolvidos, mas podem ser compreendidos, e podemos receber amparo, por isso procuramos explicações que necessitam ser mais profundas. 
Mas sempre dentro do merecimento de cada um.
Reconhecemos uma hierarquia dos espíritos, reconhecemos que alguns problemas que se nos apresentam tem origem kármica e, portanto não podem ser “resolvidos” rapidamente, sendo exigido um tempo para sua expiação. 
E não adianta ficarmos batendo pé, exigindo dos Orixás, guias ou entidades “solução imediata”. 
Guia nenhum, enviado de Orixá nenhum se apresenta em terreiro nenhum para “resolver nossos problemas materiais.” 
Tudo tem seu tempo e sua hora dentro do merecimento de cada um. 
Devemos pedir resignação e força para enfrentar as nossas dificuldades e principalmente auxílio para sermos merecedores da graça que buscamos.
Compreendemos também, que temos amigos no além-túmulo, que se têm condições de ajudar, ajudam, os quais denominamos guias, trabalhando por nós em outras esperas de atividades.
Podemos, em razão desta compreensão aplicar outras...
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1. Devemos compreender que pretos velhos, caboclos, ou entidades que podem nos ajudar não habitam em nosso plano físico. 
Os pontos cantados, o defumador, as orações, o ambiente, enfim, visam oferecer condições para evocar tais entidades para perto de nós.
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2. As falanges que atendem aos apelos de nossos chamados possuem reinos de vida, áreas de atuação, de modo que trazem energias e vibrações afins, assim ao chegarem ao nosso meio carregam o ambiente e trocam nossa energia terráquea (física) por energia proveniente de suas hostes (cósmica).
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3. Reconhecemos os Orixás básicos, e que cada um tem sua esfera de atividades. 
Como embaixadores de Deus, como ministros de Deus, cada qual têm seu campo de ação, e para sermos mais eficientes devemos fazer o pedido ao Orixá certo. 
Se queremos que uma planta brote, cresça e floresça não podemos molhá-la com água salgada, mantê-la longe do sol ou em lugar sem ar. 
Se quisermos pescar não podemos ir a um mar ou rio poluídos. 
Assim é com os nossos pedidos.
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4. Dentro dos pedidos que se fazem as falanges que são invocadas nas giras, um fator básico a que nos propomos, tanto trabalhadores físicos (médiuns) quanto trabalhadores espirituais é a condução de entidades que por motivos vários observam pessoas ou ambientes em que vivem, procurando esclarecer, ou simplesmente afastar as intromissões malfazejas, sempre respeitando a Lei do Livre Arbítrio.
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5. Também nos propomos a tentar dissolver miasmas ou fluídos negativos agregados aos corpos dos médiuns e assistentes (trabalho de expurgo).
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6. A gira também estabelece um vínculo maior entre o médium e o seu guia, ampliando assim cada vez mais o entrosamento, melhorando também a sua capacidade mediúnica de trabalho.
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7. Por último, dentro do campo das possibilidades kármicas, esclarecer ou ajudar na solução de problemas pessoais, através de mentalização clara e persistente, ou seja, é fundamental que se compreenda que um Templo Umbandista não é uma Tenda de Milagres, onde chegamos e todos os nossos problemas materiais serão resolvidos.
 Um Templo Umbandista é o local para recarregarmos nossas “baterias”, renovamos a nossa fé em Zambi (Deus) e através da caridade pura evoluímos como seres humanos alcançando assim serenidade para
enfrentarmos o nosso dia-a-dia. 
Em resumo, as funções dos guias, mentores e protetores de Umbanda são de amparo, esclarecimento, orientação... a decisão e solução são nossas.
Compreendemos também que existe forte tendência do ser humano, de maneira geral, em quando submetidos a uma situação frustrante ou de fracasso, atribuir a causas externas a sua pessoa esse fracasso, e quando submetidos a situações prazerosas atribuir a si mesmo, as suas qualidades pessoais. 
Exemplo disto: invariavelmente quando somos demitidos do nosso emprego, atribuímos a uma perseguição, muitas vezes autêntica do nosso chefe e nunca a nossa incompetência. 
Nem aventamos a hipótese de estarmos sendo “perseguidos” por que somos incompetentes, mas o nosso chefe é que é um chato, ou “não vai com a nossa cara”. 
Em contrapartida se somos promovidos, nunca é porque o chefe é bonzinho, ou porque é um bom chefe, atento aos méritos dos funcionários, mas sim porque somos competentíssimos (e só um “cego” não “veria”
essa competência toda), e essa promoção era mais do que merecida.
Assim as pessoas agem quando chegam aos terreiros de Umbanda. 
Se não têm os seus pedidos atendidos de pronto, é porque o dirigente não é bom, porque o terreiro é fraco, ou porque a Umbanda não é de nada. 
Nunca lhes passa pela cabeça que primeiro precisam merecer alcançar determinada graça, ou que seja um processo kármico evolutivo pelo qual estejam passando para seu próprio aprendizado. 
Não meus amigos, infelizmente isso não acontece, e sabem porque?
 Porque muitos resolvem ser umbandistas por medo, ou para que sua vida material melhore. 
Cabe mudar esse primeiro conceito. 
Mudar a mentalidade dos médiuns umbandistas, e aí sim mudar a mentalidade da assistência. 
Isso é obrigação de todo Dirigente Umbandista. 
Orientar seu corpo mediúnico e a assistência do seu terreiro ao invés de sentar no “trono” de dirigente e responder as perguntas que lhe são dirigidas com o famoso “é assim porque é”.
A Umbanda evoluiu, esse tipo de papel não cabe mais nela. 
O estudo constante é fundamental. 
As entidades que militam na seara umbandista estão cada vez mais evoluídas e esclarecidas e tem importante papel dentro da espiritualidade. 
Cabe, a nós médiuns, tentarmos estar a altura dela.
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Do Livro: Umbanda, Mitos e Realidade 
Autor MÃE IASSAN AYPORÊ PERY
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